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Atribui-se a frase "Navigare necesse; vivere non est necesse" ao general romano Pompeu.
Traduzida por Fernando Pessoa no poema homônimo, ela se torna uma pérola da língua portuguesa: "Navegar é preciso, viver não é preciso".
Em 1968, Caetano Veloso construiu sobre a mesma frase o poema veramente belo transformado no fado que, pelo visto, não consta do famigerado Youtube:
Os Argonautas
O barco
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco
Meu coração
O porto
Não
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco
Noite no céu tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso
O arco da madrugada
O porto
Nada!
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue
O charco, barulho lento
O porto
Silêncio!
Navegar é preciso
Viver não é preciso
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Os instrumentos de navegação representam, para os antigos, o que há de mais exato e, simultaneamente, o que há de mais necessário. Mas nada pode ser mais impreciso que o desejo que, tal como onda, faz deslizar rumo aos mares mais distantes. Dentro do peito bate o coração transbordante, centro pulsante indispensável à vida, que nada em busca de um porto enquanto, paradoxalmente, inquieto foge à toda métrica.