terça-feira, abril 07, 2009

GRE-NAL das homenagens (um parêntese para o futebol)

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Aproveitando que o Sport Club Internacional (SCI) fez 100 anos neste dia 04 de abril, peço licença para, fugindo à regra do SARAU, fazer um comentário sobre futebol...

A rivalidade GRE-NAL é, reconhecidamente, uma das maiores e mais importantes do mundo. A própria FIFA assim o considera. Muitas publicações sérias investigam a história dessas duas bandeiras.

As rivalidades são naturais no esporte. Em nenhum outro lugar, porém, se observa uma bipolaridade tão radical entre duas instituições, que repercute tão fortemente no dia-a-dia dos rio-grandenses/gaúchos e seus descendentes.

Apesar de o esporte ser muito comumente associado à intolerância e à ignorância, e seja tantas vezes utilizado como forma de canalização e banalização da agressividade/violência, fato absolutamente lamentável, este mesmo esporte vezes requer e ensina a disciplina, o respeito, a auto-superação e tantas outras qualidades - o tal do espírito esportivo.

Aproveitando então o tema dos 100 anos do INTER, cito como curiosidade o parabéns recíproco trocado pelos rivais nas datas dos respectivos centenários.

Tudo começou em 15 de setembro 2003 quando o Grêmio de Futebol Porto-Alegrense fazia 100 anos de história.. O momento para o clube era ruim, o time principal estava quase caindo para a série B do campeonato nacional.

Os torcedores gremistas, porém, foram presenteados por uma homenagem cheia de bom humor, bonita e sincera, por parte do Colorado. E bastante inusitada:

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Velho Grêmio!

Bom dia, Grêmio!

Quero ser o primeiro a te abraçar, nesta data tão especial. Afinal, sou teu mais antigo parceiro. Nestes cem anos da tua vida, há mais de 94 sou testemunha presencial de uma profícua existência, como se diz nas solenidades.

Já te conheci taludinho, o que me custou alguns cascudos, como é comum nessas amizades de infância. Tudo bem, eu pude dar o troco e chegamos sem ressentimentos à maturidade. Nos meus primeiros anos, quando eu vivia em casa alugada, tu já eras o feliz proprietário de um fortim em bairro chique; depois fui eu que construí morada de concreto e alvenaria, cenário até de festas mundiais; a comparação te estimulou e aí te mudaste para a bela casa de hoje; pouco depois comecei a erguer o palácio onde vivo – e disso tudo lucraram os nossos milhões de amigos.

Dizem que somos opostos inconciliáveis, e de fato temos grandes diferenças. Não só de idade, mas de origem, e, por conseqüência de temperamento e jeito de ser. No geral és mais contido, eu mais extrovertido, embora, ultimamente, venhas revelando uma pontinha de incontida admiração pela minha popularidade.

Somos também muito parecidos (que não nos ouçam os mais radicais dos nossos seguidores), sobretudo na paixão pela nossa terra comum, o gosto de representá-la bem, e mais ainda na afeição sem limites por esse jogo incrível, em que uma bola de couro rola pelos mágicos tapetes verdes que habitamos e visitamos, onze pra cada lado, milhões pra cada lado.

Quando fizeste 50 anos, eu estava lá. Quase estraguei a festa, desculpa o mau jeito! (faz parte: não esqueçamos dos cascudos...). Quando eu fiz 60 anos, também te chamei para comemoração, que, por sinal, terminou em barraco, o que também faz parte. E a cada 15 de setembro eu vou na tua casa, como vais na minha a 04 de abril, e ali trocamos discursos em que, nós sabemos, o apreço é sincero. Dizem até que não podemos viver um sem o outro.

Tiveste grandes dias e amargas passagens nestes cem anos, como eu também, nos meus 94; a vida é assim, mais alto o coqueiro, maior é o tombo, diz a canção popular – mas ninguém nos acusará de termos jamais violado o nobre espírito que preside as competições esportivas. Com os bons e os maus resultados, aprendemos e também ensinamos que não há desonra nas derrotas de campo, e que a uma hora de amargura sempre se seguirá um momento de glória.
Recebe, velho Grêmio centenário, o abraço nonagenário do Internacional

FERNANDO CARVALHO
PRESIDENTE DO S.C.INTERNACIONAL

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Retribuindo a homenagem, sem abdicar das "alfinetadas", mas em tom amistoso, o Grêmio retribui, neste 04 de Abril de 2009, data dos 100 anos do Inter, a homenagem recebida alguns anos antes...

Diz assim..

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Ao Sport Club Internacional


Apesar dos 105 anos bem vividos, temos boa memória. E da mesma forma que fomos homenageados naquele 15 de setembro de 2003, aqui estamos para mostrar nossa admiração e respeito por tudo que conseguiste até hoje.

Mas antes de qualquer coisa, vamos contar um pouco dessa história.
Que nos desculpem os modestos, mas poucos podem contar tão bem essa trajetória quanto a gente. Ou esquecem que, naquele 4 de abril de 1909, nós já estávamos por aí, jogando bola?

E o mais incrível: isso não intimidou aqueles novatos que logo nos desafiavam para um match". Não dá pra dizer que foi o mais difícil dos jogos. Mas saímos de campo certos de que tamanha audácia haveria de nortear um futuro promissor. Dito e feito.

Com o passar do tempo, foi ficando claro que nossos caminhos sempre se cruzariam. Nosso destino eternizou o fato de que teus astros cintilam num céu sempre azul. E assim seguimos, na eterna busca de superar um ao outro. Depois da Baixada, os Eucaliptos. Daí veio o Olímpico, e então o Beira-Rio. Se aquela camisa 5 nos incomodou na década de 1970, a nossa camisa 7 apavorou na década seguinte.

Aliás, nada é mais bonito no futebol do que essa competição sadia, essa rivalidade. Porque gente como Tarciso, Eurico Lara, Airton Ferreira da Silva, Danrlei, entre tantos outros, gente que nunca vestiu vermelho, também ajudou e segue ajudando a escrever a história gloriosa do Sport Club Internacional.

E isso, podem ter certeza, dá um baita orgulho.
Nação Colorada, aceita de coração o parabéns de todos os Imortais Tricolores pelo teu Centenário.

GFPA

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Corro o grande risco de estar sendo parcial, mas vamos, acho a homenagem do internacional ao Grêmio bem mais bonita he he.. Isso realmente pouco importa.. O que vale aqui é o tal do espírito esportivo..
Realmente gosto do futebol e do esporte em geral, nao como meio de agressão de supostas "frentes inimigas", dessa forma tão vulgar como se encara.. Gosto de ver o espírito de superação, a tentativa de aprimoramento de si próprio através do adversário.. As estratégias inteligentes, esquemas táticos, a preparação física e psicológica, a aplicação técnica.

Que bom se fosse sempre assim na própria vida... O adversário como amigo, não aquele que quero vencer, mas aquele através do qual quero me auto superar nesse combate simulado. E fora isso, a própria alegria do jogo, do competir, de estar jogando ou "brincando" dentro de regras, ato que reflete a dignidade do atleta, além de todo o ganho em saúde que envolve o esporte corretamente praticado..

Ah, se fosse sempre assim