terça-feira, março 06, 2007

Pensei numa música...mas músicas são escritas para serem cantadas.
Pra vocês então, uma lindeza de Anaïs Nin que é para ser vista em nossa imaginação:

(...) Quando ele retornou ao seu cantar, uma teia invisível já havia sido tecida entre os olhos dos dois. Ela já não observava as mãos dele em cima da pele do tambor, mas sim sua boca. Seus lábios eram cheios, assim mesmo, carnudos, mas de desenho firme, embora a maneira como os ostentava fosse como uma oferta de fruta. Jamais se fechavam por completo nem se retraíam pela mais leve contração, senão que permaneciam ofertados.
Seu cantar lhe era oferecido nesse cálice de sua boca, e Sabina o bebia atentamente, sem derramar uma gota desse encanto de desejo. Cada nota era o roçar de sua boca sobre ela. Seu cantar exaltou-se e o tamborilar ficou mais profundo e cortante, chovendo sobre o coração e o corpo de Sabina. Tum-tum-tum-tum-tum em seu coração, ela era o tambor, sua pele estava esticada sob as mãos dele, e o toque do tambor vibrava pelo resto do seu corpo. Onde quer que ele fixasse os olhos, ela sentia o bamborilar de seus dedos no estômago, nos seios, nos quadris. Os olhos dele fixaram-se nos desnudos pés de Sabina, metidos em sandálias, e eles tocaram um ritmo de resposta. Os olhos dele fixaram-se na cintura torneada onde os quadris começavam a se dilatar, e ela se sentiu possuída por uma canção. Quando ele parou de tocar o tambor, deixou as mãos estendidas sobre o couro, como se não quisesse tirá-las do corpo de Sabina, e os dois continuaram a se encarar e então se separaram como que receando que todos estivessem visto o desejo que brotava entre ambos. "

Fragmento de Uma espiã na casa do amor - 1959

Só para saber um pouquinho:Anaïs Nin (1903 - 1977), escritora francesa que tornou-se famosa por publicar seus diários pessoais escritos desde os 12 anos de idade. Teve um caso com Henry Miller e o romance acabou em filme, Henry & June.

fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.