quarta-feira, janeiro 10, 2007

Opinião sobre as moscas / Parte I

Estamos por aí, como moscas. Encontramo-nos muitas vezes aos pares, aos quartetos, avulsamente. E nos encontramos tantas vezes aos bandos, mas no piloto automático, esbarrando-se, como nos mercados públicos e shoppings da vida. Alienadamente. Penso em como é marcante quando pessoas se reúnem em autêntica sintonia, expressando socialmente suas individualidades! Pena que isso ocorra tão excepcionalmente e, no mais das vezes, por acaso. Aleatoriamente. Penso que existe pouco espaço para coisas como saraus. Não que o espaço não exista, mas tudo tende a cair na banalidade do cotidiano. Vivemos para produzir-consumir, produzir-consumir, “em função do labor”, diria Hanna Arendt. Nossas vidas tendem a diluir-se nesta rotina mórbida, lúgubre.

Somos individualistas demais, no sentido pejorativo, mesmo quando estamos aos bandos. Cercamo-nos de muros e grades, mergulhamos num estado de espírito opressor e superficial. Não todos, não o tempo todo (que bom), mas a maioria quase sempre. Fazemos piadas, rimos à beça de bobagens, vamos a festas e fugimos momentaneamente da monotonia. Pensamos e concluímos que não há motivos para não estarmos felizes. Temos emprego, trabalho, amigos, fazemos festa no sábado, as coisas estão encaminhadas. Fica, porém, aquela angústia de fundo. Algo está errado... E a aventura da vida? É só isso? Não poderia ser mais, muito mais? Então sofremos sem saber cosncientemente porque, ou então nos repreendemos intimamente por tudo que poderíamos ter sido, por tudo que poderíamos ter feito, etc. Não sofremos porque coisas ruins nos acontecem, mas porque é tudo muito... normal.

Questionam ainda o porquê de coisas como "depressão", doença extremamente recente, que agora atinge até os mais jovens, aqueles de quem, por definição, poder-se-ia esperar um pouco sangue quente! Mas nunca antes fomos tantos nas cidades, nunca antes andamos tanto em bandos e nunca antes fomos tão sozinhos. Tão autômatos, tão iguais. E como somos apáticos! Santo sangue de barata, Batman! Onde estão as individualidades? Ó amigo, o que tens de verdadeiro, de cristalino, de especial, de único? Somos medrosos, medrosos demais. Talvez esse comentário possa ser entendido como pessimista. Entendo que assim se pense. Não é, porém, a intenção, muito pelo contrário...

Continua no próximo capítulo